sábado, 19 de novembro de 2016

Depressão e absenteísmo no trabalho



*por Arthur Lobato

Alguns conceitos referentes à saúde do trabalhador já se tornaram assuntos corriqueiros em conversas, e a depressão é um tema que todos comentam. Segundo a OMS — Organização Mundial da Saúde — a depressão é o mal do século. Os estudos referentes à saúde mental têm fornecido dados importantes para entender esse fenômeno que pode acometer qualquer um de nós. Hoje é inegável o fator trabalho como componente de análise entre as possíveis causas de depressão, e, quando falamos de trabalho, falamos do empregado e do desempregado, pois não conseguir trabalho em nossa sociedade de consumo é sinal de fracasso e exclusão, consequentemente um fator importante na depressão.

Se o trabalhador empregado vive a angústia de poder ficar desempregado, o servidor público concursado com a estabilidade, teoricamente, deveria apresentar um quadro de maior sanidade mental e emocional pois seu emprego está garantido. Mas não é isso que aponta o estudo de absenteísmo realizado pelo TJMG. O absenteísmo — a ausência do funcionário no ambiente de trabalho, ou o número de horas de trabalho perdidas – por transtorno mental e emocional, ocupam o primeiro lugar nos motivos de afastamento, seguido pelas doenças osteomusculares (LER - DORT).

Segundo Bruno Farah, psicólogo do Tribunal Regional Federal da 2ª Região e Doutor em Teoria Psicanalítica (UFRJ/Université Denis Diderot - Paris 7), é preciso interferir na contramão dos mecanismos de gestão que individualizam o trabalho, que criam a competição extremada, produzem uma autonomia enganosa e deterioram as possibilidades de um trabalho comum. Para ele, a saúde no trabalho deve estar no centro da gestão do trabalho. 
“A gestão precisa ver a abundância de competências e não sua carência, deve ser capaz de promover uma autonomia compartilhada e uma interdependência entre sujeitos e não a enganosa autonomia prescrita de uma independência solitária e impotente”.

A OMS define depressão como um transtorno mental comum caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração. Estimativas da OMS apontam que em 2020 a depressão será a maior causa de afastamento nas empresas do mundo inteiro. A depressão tornou-se um problema social, “o mal do século XXI”.

Bruno Farah em seu livro “A Depressão no Ambiente de Trabalho: prevenção e gestão de pessoas”, correlaciona a depressão como sintoma social e analisa como o poder paradoxal de um modelo de gestão, compreendido por Gaujulec, como doença social, e por Ehrenberg que analisa a depressão como doença da autonomia. Bruno analisa a depressão e sua relação com o modelo de gestão. Importante é sua constatação que o “enfrentamento do problema precisa dar-se na ordem do coletivo do trabalho”, já que “ninguém evolui – instituição, empresa ou pessoa – sem a participação coletiva” afirma o William Douglas, juiz federal, e que a “saúde no trabalho, deve estar no centro da gestão do trabalho conclui Bruno.

Para Bruno, a depressão apresenta os seguintes sintomas:

- Humor deprimido na maior parte do tempo;

- Interesse diminuído ou perda de prazer nas atividades diárias;

- Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;

- Indecisão ou diminuição da capacidade de concentração;

- Fadiga ou falta de energia;

- Insônia ou sono excessivo;

- Agitação ou lentidão de movimentos;

- Perda ou ganho significativo de peso;

- Ideias recorrentes de morte ou suicídio.

Cinco destes sintomas, juntos, por mais de duas semanas, caracterizam o transtorno depressivo maior, mas apenas um sintoma pode ser extremamente desagradável. Farah afirma que a depressão contemporânea deflagra um sofrimento relacionado a responsabilidade de si, uma doença da autonomia, onde prevalecem sentimentos de insuficiência (não consegui o suficiente) e vergonha por ter fracassado, por não ter dado conta. Assim, segundo o autor, “a responsabilidade e a vergonha são dois ingredientes centrais para entendermos o sofrimento manifesto na depressão”.

O SINJUS-MG está com uma enquete no site sobre alguns dos possíveis motivos do absenteísmo no TJMG. Participe e ajude o Sindicato na elaboração de uma política de prevenção à saúde em busca de um ambiente saudável de trabalho, onde as relações interpessoais tenham por base o respeito, a honra e a dignidade da pessoa humana.

1Farah, Bruno. A depressão no ambiente de trabalho: prevenção e gestão de pessoas: um estudo sobre as empresas contemporâneas a luz do Judiciário Federal. São Paulo: Ltr, 2016. Pág. 33.



*Arthur Lobato é psicólogo, Saúde do Trabalhador

Publicado em:http://www.sinjus.com.br/


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