segunda-feira, 1 de julho de 2013

Confira o último artigo da série sobre assédio moral por Arthur Lobato

Nesta quinta-feira (27/6), o SINJUS-MG traz o último texto do psicólogo Arthur Lobato que integra a série de artigos sobre as palestras realizadas por Marie France Hyrigoen, especialista em Assédio Moral, e Chistopher Dejours, que estuda a relação prazer-sofrimento no trabalho. 

Os estudiosos são franceses e estiveram no Brasil, a convite da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho 4ª Região (TRT4), em Porto Alegre, em abril de 2012. As análises foram feitas pelo psicólogo e coordenador da Comissão de Combate ao Assédio Moral do Sinjus/Serjusmig, Arthur Lobato, que participou do evento. 

No artigo de hoje, Arthur Lobato analisa a proposta de virada epistemológica de Christophe Dejours. A proposta defende que em vez de atuar apenas sobre o sintoma, após o mal ter sido feito, temos que nos voltar para a origem da doença (etiologia), e trabalhar de forma a evitar que a doença surja. 

 No próximo artigo, o psicólogo fala sobre as comissões paritárias do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais (TJMMG) e Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e suas metas para combater o assédio moral. Boa leitura! 


 *por Arthur Lobato







Da Sintomatologia à Etiologia


Dejours propõe uma mudança paradigmática: da análise do sintoma (efeito da doença) para a etiologia: a origem da doença. Segundo o pesquisador "todo problema na organização do trabalho é um problema político".



Quando se constata que aumenta cada vez mais o número de doenças mentais ocasionadas pelo trabalho, temos um diagnóstico a partir do adoecer, por isso é importante entender as origens desde adoecer, para poder impedi-lo. Dejours propõe uma virada paradigmática, “... em vez da análise do sintoma, partir para a etiologia: a análise das causas da doença, que deram origem ao sintoma” (ponta do iceberg/doença). Afinal, o sintoma é o que se manifesta, é o fenômeno que se analisa, de onde deve partir a busca para compreender suas origens (etiologia). É uma virada epistemológica, uma mudança do paradigma atual sobre o adoecer do trabalhador, reforçando a ênfase na descoberta da origem da doença para que a prevenção seja realmente eficiente.



Dejours ressalta a importância de um atendimento multidisciplinar no campo da saúde do trabalhador, discurso importante neste momento, quando no Brasil, o “ato médico” de forma autoritária consolida o poder supremo da medicina sobre outras áreas de saber da saúde como um todo. Entretanto sabemos que o psicólogo, o assistente social, o fisioterapeuta, o enfermeiro, o nutricionista, também possuem saberes inerentes a sua profissão, que não podem ser desconsiderados ou excluídos de um tratamento. Queremos enquanto profissionais da saúde do trabalhador, entender os possíveis destinos da relação entre trabalho e subjetividade, com a multiplicidade de saberes em prol do ser humano.

Por isso, segundo Dejours “no ambiente de trabalho é importante a realização de pesquisas para entender a relação entre o trabalho e o adoecer do trabalhador”.

Afinal, a saúde mental é individual, mas também pertence ao coletivo de trabalhadores, e a prevenção é o tecido social, já que envolve a solidariedade e o respeito entre e para com os trabalhadores. Para Dejours, as principais questões/problemas/conflitos relatados em suas pesquisas envolvem a hierarquia, a disciplina e a autoridade. Constata-se que a autoridade ‑­ diferente do autoritarismo, que é uma forma de abuso de poder ‑ é uma aprendizagem que se faz na relação do trabalho. Na analise sobre a hierarquia e disciplina, constata-se que "quanto mais regras, maior é o medo".

Em ambientes onde prevalecem o autoritarismo nas relações de trabalho, como no caso do TJMG, o trabalhador desconectado do grupo, do coletivo, procura desenvolver estratégias de defesa individuais que representam uma recusa de sofrer, para “sobreviver” no trabalho. Não podemos esquecer que na clinica do trabalho, a identidade do trabalhador é criada no campo do trabalho, por isso é importante um espaço para falar do trabalho, pois “só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para a adaptação das normas da instituição, com a experiência e o saber do trabalhador”. Por isso é importante a analise da etiologia (origens da doença) e não apenas tratar os sintomas, sem buscar a fonte do mal estar, do adoecer do trabalhador.

Que este seja um dos focos para as futuras pesquisas e ações da Comissão Paritária TJMG/SINDICATOS, criada para coibir o assédio moral: unir as normas da instituição com o saber do trabalhador, em busca de um ambiente saudável no trabalho.

Publicado em:  http://sinjus.org.br/







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