Os estudiosos são franceses e estiveram no Brasil, a convite da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho 4ª Região (TRT4), em Porto Alegre, em abril de 2012. As análises foram feitas pelo psicólogo e coordenador da Comissão de Combate ao Assédio Moral do Sinjus/Serjusmig, Arthur Lobato, que participou do evento.
No artigo de hoje, Arthur Lobato analisa a proposta de virada epistemológica de Christophe Dejours. A proposta defende que em vez de atuar apenas sobre o sintoma, após o mal ter sido feito, temos que nos voltar para a origem da doença (etiologia), e trabalhar de forma a evitar que a doença surja.
No próximo artigo, o psicólogo fala sobre as comissões paritárias do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais (TJMMG) e Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e suas metas para combater o assédio moral. Boa leitura!
*por Arthur Lobato
Da Sintomatologia à Etiologia
Dejours
propõe uma mudança paradigmática: da análise do sintoma (efeito da
doença) para a etiologia: a origem da doença. Segundo o pesquisador
"todo problema na organização do trabalho é um problema político".
Quando se
constata que aumenta cada vez mais o número de doenças mentais
ocasionadas pelo trabalho, temos um diagnóstico a partir do adoecer, por
isso é importante entender as origens desde adoecer, para poder
impedi-lo. Dejours propõe uma virada paradigmática, “... em vez da
análise do sintoma, partir para a etiologia: a análise das causas da
doença, que deram origem ao sintoma” (ponta do iceberg/doença). Afinal, o
sintoma é o que se manifesta, é o fenômeno que se analisa, de onde deve
partir a busca para compreender suas origens (etiologia). É uma virada
epistemológica, uma mudança do paradigma atual sobre o adoecer do
trabalhador, reforçando a ênfase na descoberta da origem da doença para
que a prevenção seja realmente eficiente.
Dejours
ressalta a importância de um atendimento multidisciplinar no campo da
saúde do trabalhador, discurso importante neste momento, quando no
Brasil, o “ato médico” de forma autoritária consolida o poder supremo da
medicina sobre outras áreas de saber da saúde como um todo. Entretanto
sabemos que o psicólogo, o assistente social, o fisioterapeuta, o
enfermeiro, o nutricionista, também possuem saberes inerentes a sua
profissão, que não podem ser desconsiderados ou excluídos de um
tratamento. Queremos enquanto profissionais da saúde do trabalhador,
entender os possíveis destinos da relação entre trabalho e
subjetividade, com a multiplicidade de saberes em prol do ser humano.
Por isso, segundo Dejours “no ambiente de trabalho é importante a realização de pesquisas para entender a relação entre o trabalho e o adoecer do trabalhador”.
Afinal, a
saúde mental é individual, mas também pertence ao coletivo de
trabalhadores, e a prevenção é o tecido social, já que envolve a
solidariedade e o respeito entre e para com os trabalhadores. Para
Dejours, as principais questões/problemas/conflitos relatados em suas
pesquisas envolvem a hierarquia, a disciplina e a autoridade.
Constata-se que a autoridade ‑ diferente do autoritarismo, que é uma
forma de abuso de poder ‑ é uma aprendizagem que se faz na relação do
trabalho. Na analise sobre a hierarquia e disciplina, constata-se que
"quanto mais regras, maior é o medo".
Em
ambientes onde prevalecem o autoritarismo nas relações de trabalho, como
no caso do TJMG, o trabalhador desconectado do grupo, do coletivo,
procura desenvolver estratégias de defesa individuais que representam
uma recusa de sofrer, para “sobreviver” no trabalho. Não podemos
esquecer que na clinica do trabalho, a identidade do trabalhador é
criada no campo do trabalho, por isso é importante um espaço para falar
do trabalho, pois “só assim se chega a uma arbitragem sobre as
deliberações e opiniões dos trabalhadores para a adaptação das normas da
instituição, com a experiência e o saber do trabalhador”. Por isso é
importante a analise da etiologia (origens da doença) e não apenas
tratar os sintomas, sem buscar a fonte do mal estar, do adoecer do
trabalhador.
Que este
seja um dos focos para as futuras pesquisas e ações da Comissão
Paritária TJMG/SINDICATOS, criada para coibir o assédio moral: unir as
normas da instituição com o saber do trabalhador, em busca de um
ambiente saudável no trabalho.
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